Você recebeu uma carta! #8
Edição #8: culpa, autodesconhecimento, falhar melhor em 2025.
Nova York, 31 de dezembro de 2024
Querido leitor,
Chegamos ao último dia do ano. Escrevo com certa melancolia diante da realidade de passar a virada de ano longe dos meus. Aqui fez frio e até nevou alguns dias atrás. O Réveillon em Nova York é feito para os turistas. O único jeito de escapar da euforia histriônica dos que estão a passeio na cidade é tentar passar a virada com amigos em casa. Qualquer lugar fora de casa pode ser estressante.
Nesses dias, tenho aproveitado para me organizar, planejar e escrever sobre coisas que me afetam: filmes, séries, livros, pessoas, cidade, etc. Publiquei uma breve reflexão sobre o último filme do Almodóvar no Instagram (@mariana.anconi). Se você não viu, peço que leia e compartilhe comigo o que achou do filme.
Falando nisso, estou cogitando a possibilidade de ir ao cinema hoje à tarde. Não me parece uma ideia tão ruim. Tenho tentado aproveitar ao máximo os dias de folga fazendo quase tudo que não consigo quando estou na rotina dos atendimentos. Ir ao cinema tem sido uma prioridade. A sala do cinema é uma espécie de oásis na cidade de concreto.
Essa época é comum que as pessoas façam retrospectivas sobre o ano. Para além de um narcisismo ao mostrar as conquistas realizadas, acredito que em alguns casos, se trata mais de um jeito de reatualizar momentos, reviver memórias, lembrar para não esquecer os acontecimentos em meio a vida caótica.
A retrospectiva de eventos e momentos, bons e ruins, pode ser uma via interessante para fisgar as repetições, tanto as boas quanto as ruins. Somos seres de repetição. Porém, podemos repetir de jeitos diferentes.
O que funcionou durante o ano e o que não funcionou, pode ser uma bom exercício a ser feito nesse momento. Percebo que às vezes, há uma resistência em pensar sobre o que não funcionou, que acaba sendo interpretado como fracasso, erros cometidos, falhas. Ninguém está isento das falhas. Elas fazem parte da vida. No entanto, não quero te conduzir numa via conformista. Quero convidá-lo a falhar melhor.
Essa proposta não está nos livros de autoajuda e autoconhecimento que, aliás, podem causar mais danos do que ajudar em algo. Recentemente, vi um trecho do video de um psicólogo (Alexandre Coimbra) circulando na internet, falando sobre os danos causados por livros desse gênero e, o grande fator negativo, é que estes livros geram culpa.
Achei essa ideia válida, porque a culpa conduz o sujeito para uma rua sem saída, ele se torna refém de uma narrativa que gera sofrimento. Esse autoconhecimento não é “auto” é do outro.
Que 2025 seja um ano de autodesconhecimento para que possamos falhar cada dia melhor.
Abraços,
Mariana Anconi